Bem antes do inverno chegar!

Pena que ainda não dá pra comemorar a chegada do outono. Ainda está quente pra chuchu. Pior que isso, abafado pra dedéu. Mas, já tivemos um avanço: o verão acabou!

Não é que eu deteste a estação mais festejada do ano... tirando o suor em bicas, as brotoejas, a pressão baixa, a tontura, a falta de ar, o horário antecipado, a cidade lotada de turistas e consequentemente de pivetes, o calor escaldante e o frenesi que toma conta das calçadas... eu até que gosto. E para ser justa, admito que minha vida costuma passar por grandes mudanças no caldeirão fervilhante do verão... Engatei um namoro de carnaval que dura até hoje, casei num janeiro quente e minhas filhas nasceram nesta época, abençoadas ( as duas!) por verões sob influência do fenômeno El Niño...

Neste ano a temporada foi igualmente sufocante. Neste ano também vivi um verão marcante e que já entrou para a lista dos "inesquecíveis" da nossa família. Encalacrados no pequeno pardieiro, focados no grande objetivo de reformar nossa casa, contabilizando tempo e dinheiro para que nosso sonho não vire pesadelo e muito menos uma "obra de igreja". Sem praia, sem viagens, sem nada que a estação pede. Haja paciência... Talvez por isso, tudo vai caminhando mais ou menos dentro do previsto e se eu ainda não me desesperei é porque está tudo bem.

Mas, eu dou umas derrapadas e sou daquelas que tenta antecipar o frio de qualquer jeito. Típica carioca que veste o casaco porque o tempo nublou, qualquer dia cinza com chuvisco já é pretexto pra entrar no clima pé de serra...

Foi assim dia desses, quando o verão nem tinha dobrado a esquina que eu decidi preparar uma bela rabada com agrião e angu para almoço de domingo. Não que a rabada seja comida de dia frio. Acho que aqui no Rio nem dá pra esperar por isso, porque ele não vem mesmo. E se fosse assim, a feijoada das quadras de escola de samba seria um fiasco. O fato é que o rabo do boi é uma das carnes mais gordurosas que conheço e não muito indicado para dias de pleno calor.

Rabada é um prato que dá trabalho e domingo é dia de preguiça... Demoramos pra levantar e quando nos demos conta de que ainda faltava o agrião, foi tarde demais!... Acho que naquele dia toda Tijuca decretou que comeria rabada com agrião... ô frustração!... Quase que o prato perde a graça.

Hora de lançar o plano B. Esquecer o agrião e também o angu. Viva! Sem angu para alegria das meninas! E para substituí-los, batatas e arroz... Puxa, que chato. O jeito foi caprichar no tempero: azeitonas, muito alho e cebola, tomates, cheiro verde e... cerveja! Um gole de cerveja pilsen normal (antártica original) e pronto, fez-se uma bossa!

Olha, já vi (mas não provei) rabada com cerveja escura, mas a "original" era o que eu tinha naquele momento e a hora já corria longe, era pegar ou largar.

Limpei toda carne, que é muito gordurosa e cozinhei na pressão somente com água durante trinta minutos para que ela ficasse mais leve... de ilusão também se vive, sabia?! Não sei se esse é o único modo de preparo, mas desse jeito a carne fica bem menos gordurosa. Você precisa ver como fica a água depois desse cozimento... parece até navio petroleiro vazando na Baía de Guanabara.

Depois de cozida, refoguei nos temperos que preparei e deixei por mais uma hora no fogo brando. Quando a carne estava bem macia e o molho bem encorpado, acrescentei as batatas e corri pro abraço! Arroz branco quentinho e só.

Ficou bom demais, mas senti falta do agrião e do angu. Estou esperando um novo pretexto para prepará-los, mas desta vez será com costela! Deixo a preguiça pra depois do almoço, madrugo na porta do mercado, garanto meu agrião e mato meu desejo!