Eu gosto dessa onda de fábrica de bolos caseiros. Tem cada um mais gostoso que o outro e não tem mesmo aquele gosto de bolo feito em padaria ou supermercado. Também passa longe do sabor do bolinho industrializado. Já provei vários e gostei de todos.
Mas, será que a vida anda assim tão apressada que nem dá tempo de bater um bolo?! Eu mesma não tenho feito muitos ultimamente. Depois que me "mudei" não tenho tido muito ânimo para cozinhar. Já reclamei aqui... cozinha apertada, sem geladeira, a despensa improvisada em caixas... chato! E entendo que, naquela correria de todo dia nem sempre é possível ter todos os ingredientes em casa. Faz parte da minha lista de compras tê-los sempre à mão, mas farinhas e fermento estragam com facilidade, sei que muita gente prefere não comprar porque sabe que vai ter que jogar fora.
E assim seguimos adiante, alimentando a pressa e a preguiça, perdendo tempo com nada, com os outros. E aqueles que importam de verdade, ficam ali, de lado. Alimentados de pressa, preguiça e esse vício de fazer crescer o ócio quando seria tão mais divertido fazer crescer um bolo.
Uma vez, quando nem tinha dez anos ainda, uma amiga me contou que naquele dia havia acordado com cheirinho de bolo que a mãe preparou para o café da manhã. Imaginei a cena e invejei, porque jamais teria aquele momento em casa. Minha mãe partiu cedo e minha madrasta era uma mulher moderna demais para perder tempo fazendo bolos. Foi melhor assim! Todas as suas tentativas renderam ótimas piadas! E foi assim também que eu mesma treinava bolos e biscoitos numa cozinha todinha liberada para as minhas aventuras.
Aprendi receitas incríveis nas páginas de jornal, nos programas de TV e nas aulas Educação para o Lar... É, antigamente tinha isso... e era bom e deveria voltar... agora, mais do que nunca, já que estamos cada vez mais distantes do nosso lar, mesmo quando estamos plantados em casa...
E foi assim que na minha casa, desde que comecei a pilotar um fogão, nunca mais faltou um cheirinho de bolo quente!
A família agradece e até ajuda. Minha caçula segue os passos e o marido me ajuda desde o tempo em que namorávamos. Minha madrasta dizia: vocês vão solar este bolo. Só um pode mexer a bacia... e solava mesmo! Só depois de muito tempo, descobri que alguns bolos solaram por causa do forno, que era muito ruim. Mas isso nunca foi problema! Comíamos e ríamos do mesmo jeito. E essa é a mágica do bolo. Ele une e não há nada que se queira mais nessa vida que uma família unida.
Noutro dia, levantei cedo e com uma vontade incontrolável de comer bolo. Todo mundo dormindo e não dava nem pra ligar a batedeira se eu não quisesse conviver com a ira da galera logo cedo. Mesmo que fosse por um bolo, acordar assim não mereceria perdão. A única saída: bater o bolo à mão!... Tanto tempo que não batia um bolo à mão.
Duas xícaras de açúcar, duas colheres de sopa bem cheias de margarina, mexi até virar uma farofinha. Acrescentei três gemas e bati bastante até virar um creme liso e clarinho. Juntei duas xícaras de farinha de trigo, uma colher de sopa de fermento e uma xícara de leite. Misturei tudo e bati até a massa ficar sem grumos e desprender pequenas bolhas de ar. Bati três claras em neve e misturei sem bater. Bolhas maiores de ar estourando na massa são um bom sinal. Bolo fofo a caminho. Acendi o forno e deixei bem baixinho. Enquanto isso, untei uma forma com margarina e farinha de trigo. Despejei a massa na forma e dei leves batidinhas para que ela se acomodasse. Hum, esqueci a baunilha... tarde demais! Levei ao forno e enquanto o bolo assava, lambi a tigela e arrumei a bagunça. Depois de uns quarenta minutos o bolo já estava quase pronto. Não marquei o tempo. Espetei um palito na massa e se ele saísse limpo era só desligar o forno!
O cheirinho de bolo quente acordou a família! Bolo de quê, queriam saber. Bolo de bolo. Bolo bolado. Café, risos, mais um pedaço, uma migalha pro gato, um dia bom e a vida que segue... Às vezes, o que a gente busca diariamente e com tanta ansiedade está bem perto, dentro de casa. Mais fácil que um bolo.
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