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O feijão nosso de todo dia.

Gonzaguinha disse e as Frenéticas fizeram coro de que dez entre dez brasileiros preferem feijão. Mas eu penei um bocado aqui em casa pra que as minhas filhas fizessem parte desse bloco, até que elas passassem dos cinco anos gastei muitas peneiras amassando o caroço e muito blá blá blá pra convencer a importância daquela dupla dinâmica no prato. Eu mesma não sou assim tão fã. Entre ele e o arroz, fico com o segundo.

Mas, numa casa brazuca que se preza, o feijão não pode faltar. Facilita bastante pensar num cardápio que comece com arroz e feijão pra aguentar a maratona de tarefas que a maioria de nós precisa cumprir todo dia.

E assim, na insistência e com muita paciência convenci as pirralhas que elas tinham que comer e pronto e quando no limite do meu padecimento nesse estranho paraíso, repeti tanto que virou bordão a singela frase: aqui em casa não é restaurante pra escolher o prato, come-se o prato do dia. Simples assim.

Sem dúvida, quando se pensa num alimento nutritivo, o primeiro que a gente lembra é o feijão. Que logo puxa outra lembrança, a má digestão. E mais outra, essa mania que muitos têm de cozinhar uma quantidade enorme de feijão e congelar, como se cozinhar feijão fosse algo terrivelmente trabalhoso, do qual queremos nos livrar de uma tacada só.

Aposto que todo mundo aqui sabe fazer feijão. Não tenho a pretensão de ensinar alguém cozinhar. Mas, posso te animar a  arriscar um pouco mais. Deixar o congelado de lado, aquele miojo com gosto de ração, gastar menos dinheiro com comida de rua ou principalmente e tão somente, apresentar o meu feijão.

Não gosto de cozinhar um panelão de comida. Prefiro cozinhar pouca quantidade pra não ter que congelar. Habitualmente faço feijão duas vezes por semana e aqui em casa é o que basta.

São mais ou menos 250g de feijão preto e uma folha de louro que vão juntos para a panela de pressão. Água para cobrir uns três dedos acima dos grãos e 40 minutos de pressão depois que a panela começar a chiar. Outros feijões cozinham mais rápido, em torno de 30 a 35 minutos, mas é bom dar uma olhadinha na embalagem pra seu grão não virar purê!

Não deixo feijão de molho desde que descobri o quanto era importante a pectina contida no grão e que simplesmente ela é jogada fora depois que o grão fica de molho.


Gases?! Que se explodam!!!

Brincadeira. Sei que tem gente que sofre um bocado com a má digestão.

Mas, aqui em casa não tenho essa preocupação, talvez por ignorância ou por acreditar que todo alimento provoca gases, beber provoca gases, falar provoca gases... então, que se explodam mesmo!

Eu gosto de variar o tempero do feijão e aí está a bossa! Na casa dos meus avós maternos, em Olinda - Pernambuco, o feijão mulatinho era temperado com alho, cebola, tomate e coentro, sim! Coentro!!! E tinha também a abóbora! É um sabor de saudade, que traz à tona tanto carinho, meu sotaque favorito, meu avô tão amoroso comigo e é claro, a lembrança permanente da minha mãe.

Eu não faço essa receita aqui em casa. Se eu colocar coentro no feijão é capaz de trocarem a fechadura da porta... Noutro dia, numa sopa de feijão com macarrão, eu coloquei tomate pra temperar! Que delícia!!!

Mas, no feijão de todo dia, depois de passado 40 minutos, frito duas tirinhas de bacon picados numa colher de sopa de óleo de soja, coloco três dentes de alho picados e meia cebola picada também. Deixo que fiquem bem dourados e acrescento o feijão. Uma colher de chá de sal e pronto é só esperar a pectina aparecer. Fiquei sabendo que ela se forma nesta película fina que surge na fervura do feijão. 

Também adoro legumes cozidos neste caldo. De vez em quando coloco abóbora, pra lembrar a casa do vovô. Noutras vezes, coloco jiló, que aprendi com meu sogro. A dica é deixar os legumes em pedaços grandes para que não sumam na mistura.

Deixo mais uns dez ou quinze minutos apurando todos os sabores em fogo brando, engrossando o caldo e perfumando a casa...  não há quem resista ao sabor de um feijão fresquinho. É cheiro de almoço, de família, de conforto, de mãe chata empurrando colherada goela abaixo de menino treloso. E até quem não é fã se rende a um caldinho. Feijão é puro afeto!







Comentários

  1. Oi Madeleine!
    Descobri seu blog por acaso e gostei muito.
    Concordo com tudo que disse,amei a sua narrativa,me identifiquei!
    Abraço uma semana abençoada pra você.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Ana!
      É um prazer tê-la aqui! Ainda mais assim, por acaso!
      Que bom que você gostou! Você nem imagina o quanto fico feliz!!!
      Seja bem vinda!

      Excluir

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