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A longa distância entre a expectativa e a realidade

Naquele dia eu estava com vontade de comer brevidade. Mas, brevidade não é bolinho fácil, que se acha por aí deslumbrando qualquer vitrine. A vontade era grande, dessas que nem tive quando estava grávida. O jeito era catar uma receita e fazer.  E isso foi fácil! Só nos meus livros, achei quatro! Melhor ainda, as receitas também são fáceis! 

Escolhi uma de maisena, me distraí num papo furado com o marido e pronto, errei a receita! 

O meu desejo explodiu no forno, sem dó nem piedade. Destruiu minha expectativa de degustar um bolinho seco, macio e de aparência tão singela. Ficou a lambança das brevidades explodidas em forminhas coloridas de silicone e a triste realidade que eu teria que encarar pra limpar aquilo tudo!

Deixei o tempo passar e me refazer do trauma, porque a vontade de assar aquele bolinho se sobrepôs ao desejo de comê-lo! Era uma questão de honra. 

Dessa vez, me precavi e comprei forminhas de papel para não sofrer tanto na hora de limpar as formas. Usei minhas forminhas de metal mesmo e vou te contar: detesto formas de silicone!!! Errei o tamanho da formas de papel, ok... as brevidades saíram meio tronchas, mas que gostosuras!!! Fiz a mesma receita de maisena, embora minha vontade fosse comer a de polvilho. Mas, eu tinha contas pra acertar com a dona do pardieiro!


Agora sim, provada e aprovada não só por mim, mas por todo mundo lá de casa!... Que bolinho bom! Mas ainda muito distante da minha expectativa...

Deixei o tempo passar, até que chegou a hora de provar a receita com polvilho!... Não. Minha vontade de comer brevidade não acabou. Se tornou um dilema entre o sabor e a forma. Pô, eu queria comer a brevidade dos meus sonhos!

Drama e suspense! Estamos esquentando! Minha brevidade de polvilho chegou pertinho do que eu desejava como forma, mas o sabor que eu procurava não era aquele... tem receitas que levam maisena e polvilho, essa ainda não fiz, mas acho que é por aí!...

Sem mimimi, a vontade de comer brevidade passou... E a vontade de acertar também! 

De vez em quando eu esticava o olho pra vitrine das padarias com aquele fiozinho de esperança em encontrar o bolinho que sonhei... Mas, padaria é uma tentação e facilmente eu me encantaria por outro bolinho ou pãozinho ou uma cavaca mais atrevida. Então, era prudente que eu nem olhasse tanto assim!

Mas um dia, numa sexta-feira com solzinho de inverno, precisei comprar pão pro café da manhã. Deixa eu contar: é que aqui em casa a gente toma café muito cedo, às seis da matina e mesmo sendo agraciada com uma padaria bacaninha na esquina, só temos o hábito de frequentá-la nos fins de semana. Durante a semana nos contentamos com uns pães de forma ou bisnaguinhas, que ficam deliciosos na chapa e não perdemos tempo. 

Mas naquela sexta-feira... o tempo parou, congelou na vitrine da padaria! A brevidade que eu queria era assada quase todo dia, bem na porta da minha casa! Bingo! Era esse o motivo do desejo incessante... o cheiro de pão assando vem até aqui em casa. O cheiro de bolo também. Brevidade, sua danada!!!


Perfeita! E com gostinho de limão!!! Era essa a brevidade dos meus sonhos! Tão pertinho e sem sujar nada!
Sabe, tem um monte de receitas de brevidade com limão, mas ainda não testei nenhuma. Não quero destruir minha nova realidade! 

Hoje não tem receita, mas se um dia eu conseguir a da padaria eu juro que conto pra todo mundo!!! 




  

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