Pular para o conteúdo principal

Em dias de guerra, em dias de paz: hambúrguer!

Tem dias que o tempo fecha e aí a casa cai. A gente amarra uns bodes e se deixa tomar pela raiva e  pela tristeza. A gente se apaga e se deixa levar pela dor. Em dias assim, me descabelo, me descompenso, me perco de mim, enlouqueço e choro. E como choro!

Em dias assim, cumprir qualquer tarefa ou compromisso é um pesadelo, porque tudo que a gente deseja é sumir, mesmo que esse sumiço se dê bem ali na nossa cama.

Por outro lado, ter que cumprir essas obrigações pode ser uma maneira de se manter dentro da realidade e não se deixar naufragar de vez. Enquanto você cumpre todas aquelas chatices vai processando os acontecimentos e dando o peso real que os seus problemas têm. Conhece aquela brincadeira da "terapia cheia de louça pra lavar"?! Então, funciona! E vale muito mais que ficar horas procrastinando nas redes sociais, compartilhando tolices, as mesmas selfies de sempre, quando nenhum de seus amigos aguentam mais olhar o seu rostinho mais do mesmo...

Não! Não fantasie que sou uma coitada só por ter que cuidar das minhas tarefas domésticas. Faço por prazer. Prazer! Você consegue compreender a extensão desta palavra?! Ela vai muito além do ato de cumprir as tarefas, ela mistura o carinho, o cuidado e a atenção que quero dar à minha família. E demonstra com o meu trabalho todo amor que sinto por cada um deles. Ok, eu também cobro de cada um deles que façam a sua parte e às vezes ter que cobrar é mais cansativo do que fazer por eles... Mas, a gente tenta!

Cozinhar foi a parte mais difícil dessa semana dolorida. Não conseguia nem engolir a comida, com um sapo enorme entalado na garganta, imagine ter que preparar o almoço. Minha família sofreu... com a minha tristeza, minha raiva, com a habilidade que tenho em usar palavras para o bem e para o mal e especialmente com a minha comida... sem saco pra nada, como eu queria ter dúzias de hambúrgueres congelados nesses dias, mas não tinha. Ainda bem que me amam e foram solidários, compreensivos e ficaram quietinhos, que era tudo que eu precisava!

Das muitas conclusões que tirei nestes dias, garanto que nunca mais faltará hambúrguer  congelado em casa! Faz isso também! Congele hambúrgueres para dias de guerra e de paz!

da esquerda para direita: hambúrguer de ricota, carne e frango

Já faz alguns anos que não compro hambúrguer no mercado, prefiro mil vezes o meu! É fácil! Invente sua receita. A minha leva um punhado de aveia, alho e cebola, sal e o que mais eu tiver vontade de acrescentar! Pode ser linhaça, gergelim, quinoa, salsinha... o que quiser! Pode ser de carne bovina, eu gosto de chã que é basicão; peito de frango ou ricota...  e digo, hambúrguer de ricota é tudo de bom!

hambúrguer de ricota
Ele derrete e estica enquanto aquece, mas não perde o formato, basta moldar com a própria espátula. Não tem erro.

Então, basta esquentar a chapa, sacar o hambúrguer do freezer e correr pro abraço.

Eu não tinha abraço pra correr e fiz tudo tão entorpecida de raiva, tristeza e veneno, que nem lembro mais o que andei comendo por aqui.

Só lembro daquelas três pessoas que me olhavam e às vezes até falavam "olha, eu estou aqui!" E além destas pessoas, havia também dois pares de olhos, dos meus amores peludos, meus vira-latas queridos, que não sabem falar e nem precisam, pois sabem, melhor que qualquer um, expressar todo seu amor por mim. Eles ficaram ressabiados. Todos ficamos! E ao invés de pularem, vinham de mansinho, lamber minha mão, encostar em mim e de alguma maneira dizer, "olha, nós também estamos aqui."

Que perigo, se apresentar assim pra uma mulher furiosa! Periga voar uma panela na fuça!!! Estava descontrolada, mas não taquei panela em ninguém... ou quase...

E é assim que eu acordo a cada dia um pouco mais tranquila, esvaziando o peito da dor e do veneno, menos trincada de raiva, um pouco mais mansa... mas nada, nada garante que daqui a pouco o coração palpite de novo, o estômago embrulhe, o olho vidre e eu espume novamente! Então, enquanto isso, eu vou ali congelar uns hambúrgueres... por precaução... só por precaução.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Comida de acampamento - parte 2: carne moída

O céu de outono é sempre o mais bonito a qualquer hora do dia. E assim, parada no meio do quintal, eu tenho a visão ampla e privilegiada de um enorme céu azul sobre minha cabeça. De um lado, a casa que vai sendo transformada lentamente, tanto pela quantidade de coisas que precisam ser feitas, tanto pela morosidade e falta de compromisso daqueles que se intitulam "profissionais". Do outro lado, a edícula mínima onde vivemos nestes últimos seis meses. Sim, já se passaram seis meses... O céu, azul claro ou escuro, cinza ou todo branquinho, me conforta.  Eu tinha preguiça de iniciar a reforma da casa, pois sabia que o tempo seria muito maior do que o previsto, mas me preparei para viver de forma mínima durante o tempo que fosse necessário. E assim tem sido. Não sei se minha família estava preparada para isso, não sei que expectativas criaram, mas tento fazer com que este tempo, tão difícil na vida da gente, seja aproveitado da melhor maneira possível. Esse momento ficará par

"Não se apressa a arte!"

Não, esse não foi meu almoço, mas bem que poderia ter sido... de novo! Afinal, um domingo assim, frio e chuvoso como o de hoje pede um prato substancioso e quente, desses que a gente encara sem nenhum constrangimento! Fazia muitos anos que não preparava um panelão de dobradinha. Dá trabalho e não é um prato que todo mundo gosta. Da última vez as crianças não gostaram. Mas elas cresceram e dessa vez foi só alegria! Sendo assim, poderei repetir desta fina iguaria por muito mais vezes!!! Resista ao preconceito. Dobradinha é um prato delicioso! Comida boa para reunir os amigos, comer sem pressa e "apreciar a arte da boa mesa"... onde eu ouvi isso? Não lembro, mas essa foi a melhor dobradinha que preparei e fiquei me perguntando se isso se devia à maturidade... Sabe, as melhores dobradinhas que provei foram feitas por mulheres mais velhas, que carregam panelas quentes e pesadas até a mesa, dominam temperos e colheres diferentes ao mesmo tempo em bocas de fogão acesas cada

Os dias não são iguais.

Enquanto uma delas esteve a mais de oitocentos quilômetros de distância as gatinhas apareceram bagunçando a casa, mexendo com o ânimo de todos nós. Ele disse não com veemência, a outra acolheu e escolheu nomes, o cão se resignou em ter que dividir sua atenção com as intrusas. A cadela curiosa espichou o olho e o faro para dentro de casa esperando a oportunidade de fazer amizade com as visitas. A gata caçula da casa se enfureceu e buscou abrigo no jardim onde batia um solzinho, além de rosnar e eriçar os pelos dispensou seu cantinho predileto, a cama daquela que viajou. A outra gata fez que não se importou, mas enquanto durou a hospedagem evitou qualquer tipo de contato comigo, estava de mal. Duas semanas se passaram e num sábado a gatinha branca de manchas pretas partiu para seu novo lar. No domingo foi a vez da gatinha cinza ir embora com sua dona definitiva e a tensão entre os bichos se dissolveu! Pronto! Portas e janelas puderam ser abertas sem o cuidado daqueles dias em que ga