O boteco do meu pardieiro.

Não sou vegetariana, não compro comida diet nem light, não faço dieta. Mas gosto de andar na linha e apreciar de tudo um pouco com muita moderação. Quase não faço fritura, assado é mais prático e mais saudável. Só que, quando a sexta-feira chega, não sei o que acontece, me dá um siricutico e eu quero botar meu bloco na rua! Esquecer os bons modos, tomar uma cerveja gelada, duas, três e comer junto e misturado, todo tipo de fritura, coisas com gordura, me render a gula de qualquer pé sujo ou de um lugar com mais luxo que me sirva uma bela porção.

Mas, quando o sábado é de acordar cedo, sem ressaca, o melhor é ficar em casa e segurar a tentação. Ou não! Trazer o boteco pra casa é algo que pode dar certo! Se chamar alguns amigos, melhor então!

Pra fazer comida de boteco o principal ingrediente é o alho. É presença marcante dos caldos às carnes. Vai ver que é de propósito, porque quanto mais tempero na comida, mais vontade de beber. Tem gente que não gosta, que o diga um vizinho que tive. Nossas casas tinham uma proximidade perigosa e ele reclamava um bocado do cheiro da minha comida. Bastava ouvir o fogão sendo aceso pra se postar diante do basculante que separava minha cozinha da sua área de serviço e abanar um paninho, berrando impropérios numa língua estrangeira. A paranoia era tanta que até água fervendo incomodava o cara...

Mas, ele também me incomodava com seus hábitos esquisitos... Devia saber que eu ouvia, afinal se ele sabia de tudo que se passava na minha casa, deveria imaginar que eu também ouvia seus peidos quando estava na cozinha. Imagine então a minha situação... Ter que conviver com um vizinho que, além de fofoqueiro, era peidão...

Mas, vamos voltar ao boteco que ainda nem escolhi o cardápio! Frango à passarinho e caldinho de feijão são figurinhas fáceis na minha mesa. Batata frita também. Linguiça quase não peço. Mas achei uma petisco no mercado que deu água na boca e vontade de provar. 

O chato do boteco em casa é que não tem o garçom... nem o cozinheiro... Mas a linguiça é fácil, frita-se na própria gordura. Batata frita, com um tanto de óleo bem quente e limpo ou assar sem nada! É... essas batatas congeladas também podem ser assadas, não ficam lá a mesma coisa, mas quando estão quentinhas ficam ruim não!

O frango à passarinho tem que ser frito, com muito óleo e bem quente. E o ideal é que a panela seja estreita e alta pra diminuir a quantidade de óleo e evitar os respingos. Os pedaço precisam ser pequenos, de qualquer parte do frango, acho mais gostoso aquelas partes com ossinhos, que precisam de imersão na fritura pra ficarem crocantes e sequinhos. E lá se vai meia lata de óleo ou mais. Tempere muitas horas antes, quanto mais tempo, melhor. Limão, vinagre ou vinho para a marinada. Eu prefiro limão. E muito alho, pimenta, sal e só.

Para o caldinho, feijão pronto e temperado. Bata no liquidificador, coloque mais água se for preciso, pois precisa ser cremoso e não muito grosso. E cometa a insanidade de temperar de novo! Fica show!

Finalizando o serviço  e dando aquela cara de boteco, prepare o trio que não pode faltar. Frite um bom pedaço de bacon, cortado em cubinhos. Deixe escorrer a fritura num papel toalha e na gordura do bacon, frite alho cortado em lâminas fininhas ou passado no espremedor. Eu uso uma frigideira pequena e uma colher de sopa pra catar o alho. Parece, mas não dá trabalho, acredite! Escorra no papel toalha também.

E pra fechar com chave de ouro, salsinha picada. Boteco que se preza, caprichoso, vem com salsinha pra enfeitar o prato. Enfeitar, né?! Porque no meio de toda essa gordura, uma salsinha serve pra quê?! Mas faça mesmo assim, porque depois a consciência pesa, causa uma tremenda indigestão e vai sobrar pra salsinha que faltou!

Ah, e não esquece a cerveja gelada! E se tem criança na roda, um guaraná não pode faltar! Puxa a cadeira, puxa a conversa e estica o braço pra iniciar os trabalhos! Pronto, agora é só se lambuzar!